Lidar com dinheiro pode ser mais simples

Uma News especial sobre organização financeira

Estou neste momento pensando na responsabilidade que é escrever para arquitetas. Percebo a Arquitetura como uma área de atuação que oferece tantas transformações profundas e subjetivas para o cliente final, transformações que vão para além do senso estético, mas também de bem estar, acessibilidade, uma arte que como outras nem sempre são valorizadas como deveriam pelo senso comum.

Eu não sou especialista em Arquitetura, tão pouco em arte, mas alguns meses atrás atendi uma cliente muito querida, arquiteta, para trabalharmos juntas no seu planejamento financeiro pessoal. Entre uma conversa e outra, ela desabafou que se frusta um pouco quando associam esse trabalho tão profundo, individual e dedicado do Arquiteto à um simples projeto 3D e acompanhamento de obra. Eu consigo entender o tamanho do desafio que é se manter criando e ainda muitas vezes coordenar equipes, gerir um negócio e administrar as finanças da empresa e pessoais - esse sim é o meu forte aqui. Principalmente para as personalidades mais criativas, lidar com esse lado mais estratégico de se gerir um negócio é bastante desafiador.

Desde o meu inicio de atuação como planejadora financeira sempre admirei as profissões autônomas em geral, é complexo ter que pensar como se gasta, sendo a pessoa física ‘empregada’ e ainda pensar como se ganha, sendo você a sua própria fonte de receitas. Por isso que se você está me lendo por aqui, acredito que já entendeu o tamanho da importância do pilar financeiro na sua vida pessoal e profissional, tanto para manter a saúde do seu negócio, mantendo a sua paixão no mundo por muito mais tempo, como também para a sua saúde e tranquilidade mental para fazer o seu trabalho da melhor forma possível.

Analisando o cenário

Eu não sei em que momento você e o seu negócio estão, mas vou descrever 3 possíveis cenários que acredito que resumem bem de maneira geral:

Momento 1 - Completo caos
→ não há separação do que é da pessoa física e o que é do negócio
→ não sabe o quanto ganha e nem quanto gasta
→ sensação ruim à cada instabilidade de faturamento
→ ansiedade para fechar novos projetos e buscar novos clientes para cobrir os gastos do mês

Momento 2 - Organizando as coisas
→ já sei o meu faturamento
→ já sei o quanto meu negócio tem de gastos
→ as contas e controles do meu negócio são separadas da pessoa física
→ estou razoavelmente no controle

Momento 3 - Cenário ideal
→ separação completa das contas da Pessoa física e Pessoa jurídica
→ tenho o meu Pró-labore fixo todos os meses
→ sabemos o quanto faturamos e o quanto iremos faturar nos próximos meses
→ consigo planejar férias e retirada sazonais de lucros
→ consigo pensar nos investimentos e aposentadoria da Pessoa Física com mais segurança

Me conta, se identificou com algum cenário?

Geralmente, sair do Momento 1 para o 2 exige um trabalho de sentar na cadeira e fazer, um tantinho mais fácil. Agora, sair do Momento 2 para o 3, esse sim já exige tempo, planejamento e dinheiro também, um tanto mais desafiador.

Pensando nisso, vou oferecer alguns pitacos aqui que talvez você não tenha aprendido na faculdade, mas que são informações essenciais para se gerir bem um negócio.

O seu faturamento não pode ser confundido com o seu salário

Essa confusão é mais comum ainda quando atuamos com uma equipe mais enxuta, ou quando somos a única sócia das nossas empresas. Quase como: ‘esse mês a minha fatura do cartão de crédito pessoal veio mais alta, porque estou planejando uma viagem nos próximos meses… por conta disso, vou tirar um tanto à mais do caixa da empresa para pagar a fatura’. Esses movimentos são muito perigosos para o planejamento e para o fluxo de caixa da sua empresa.

Eu sei que é comum receber valores picados de clientes e parceiros, mas independente da forma de pagamento que você optou por oferecer, precisamos criar um fluxo de caixa que possa trazer uma certa estabilidade para o seu negócio e isso inclui planejar a retirada do seu Pró-labore, assim como acontece com o pagamento dos outros custos da sua empresa.

Um valor fixo mensal, uma única vez no mês, sendo transferido para a sua pessoa física - assim parecido como um salário mesmo - é o que buscamos aqui. Isso será bom não só para o planejamento da sua empresa, mas também para a tranquilidade e saúde financeira da sua vida pessoal também.

Sobre precificação

Assim como você arquiteta, eu por aqui também não tenho um preço fechado para oferecer o meu serviço ou produto. Trabalhamos com o que chamamos de orçamentação - palavra feia mas que quer dizer que não há preço fixo e sim um orçamento com base nas necessidades de cada cliente. Isso traz um certo desafio na precificação individual, mas do meu ponto de vista é uma grande vantagem, porque nos permite a personalização do nosso preço.

Quando conseguimos oferecer essa personalização na proposta, com base na necessidade individual de cada projeto, temos uma probabilidade maior de conversão em vendas, desde que claro, a proposta seja realmente aderente ao que o cliente precisa e busca. Além disso, é possível incluir no preço a variável de complicação de cada projeto, ou seja, projetos que te demandarem mais sofisticação, tempo, energia, recursos, aquele que será um projeto mais complexo mesmo, você tem a flexibilidade de cobrar mais por toda essa entrega.

É muito comum, nós mulheres autônomas, termos receio de comprar o preço justo pelo nosso trabalho, seja por insegurança, sindrome da impostora, comparação ou diversos outros motivos que nos assombram. Mas escolher se diferenciar dos seus parceiros e concorrentes apenas pelo preço é um grande erro. Isso porque sempre terá alguém disposto a oferecer menos do que você e nesse caminho de redução de preços ou de oferecer descontos demais, é que o seu fluxo financeiro não se sustenta no longo do tempo. A estratégia de preços baixos impacta também na qualidade da sua entrega final, afinal fica muito difícil garantir uma entrega que surpreenda o nosso cliente, se estamos preocupados com o boleto do cartão que vence no final da semana.

Quando cobramos um preço justo pelo nosso trabalho, nos valorizamos, nos posicionamos e fazemos com que o cliente respeite mais o nosso tempo e a nossa agenda. A percepção do cliente sobre o seu serviço muda e em contrapartida também te exige mais qualidade, e queremos entregar um serviço de qualidade, certo? E falando na entrega…

Sobre a entrega

A entrega é a transformação que você gera no seu cliente, está diretamente ligada ao financeiro.

Queremos que o nosso trabalho surpreenda o nosso cliente, queremos cada vez mais mostrar que não será apenas um projeto 3D e um acompanhamento de obra - como minha cliente desabafou. Ter uma entrega que surpreende e te posiciona como marca, irá fazer com que o seu cliente te indique por aí e sabemos que, para o trabalho autônomo, nada melhor que uma indicação, certo? Prospectar e pensar em estratégias de venda constuma ser um desafio para boa parte de nós.

Por isso, ser intencional na entrega e pensar em como a sua marca é vista te trará naturalmente um melhor faturamento e ao longo do tempo irá reduzir o esforço dedicado para prospecção de novos clientes. Além de te distanciar dos demais concorrentes, te permitindo voltar lá no ponto que falamos sobre precificação, te da liberdade de precificar da melhor forma para o seu negócio.

Mas claro, vale sempre a preocupação com o seu tempo e sua saúde mental, não queremos trabalhar além da conta e negligenciar outras áreas da nossa vida. Já temos muitas coisas para nos preocupar quando estamos tocando nosso negócio, especialmente se você optou por manter uma estrutura mais enxuta, assim como eu. Mas na minha opinião, vale mais gastar um tempo se preocupado com a qualidade da entrega e com a satisfação do seu cliente, do que com o stories de bom dia no Instagram, existe vida e comunicação fora do online, e ainda bem!

Tenho que confessar que meu forte não é criar textos curtos, gosto de esticar a conversa um pouco mais. Tem tantos outros pontos que são importantíssimos para o nosso negócio e tão desafiadores de serem tocados sozinhos. Espero de coração que algum dos pontos que coloquei aqui tenham dado uma luz por aí.

Mas, claro, se te interessa falar um pouco mais sobre esse assunto, me manda um "Oi”. Eu me envolvo em assuntos relacionados ao nosso comportamento com o dinheiro desde 2017 e durante os últimos anos me dediquei à projetos relacionados a inteligência financeira - cursos, palestras, consultorias e materiais gratuitos - sempre buscando uma abordagem prática, realista e pé no chão, embasada na economia comportamental, para que o planejamento financeiro chegasse à todos os públicos e deixasse de ser um assunto complexo.

Vou adorar conhecer um pouco mais de você.

Um beijo.